4.5.12

"Did you ever have the feeling that you wanted to go
and still had the feeling that you wanted to stay?"


Era uma vez

Isso aqui acabou. E há muito tempo. E do mesmo modo que começou: em silêncio, pé ante pé, sem pretensões. Mas é mais tranquilo assim, com um breve suspiro e tudo se vai.

Considerações? nenhuma.

Sobrou meu velho vício de sonhar.
venenodeletra.blogspot.com.br

20.11.10

2012 é logo ali

Eu, como estudante de Direito há quase seis anos e quase bacharel, tenho que confessar que me vejo perdida num mundo cada vez mais retrógrado e em fins de extinção. A começar pela imbecil estudante de direito que teve a infeliz idéia de xingar nordestinos na internet [o que, infelizmente, não é caso isolado] e que foi elevada à bode expiatório, me fazendo envergonhar pela ignorância não só dos acadêmicos jurídicos como também da nova juventude culta. Tenho uma formação de esquerda, sou simpática ao governo Lula e todos os seus projetos, votei em Marina no 1º turno e na Dilma no 2º, tenho muito orgulho da minha ascendência nordestina, e com todos esses atributos às vezes me sentia isolada num ambiente jurídico elitista que até hoje prima pelo linguajar empolado e pela aparência das coisas, não por sua essência. A tirar exemplos muito pontuais, mas que tive o grande prazer de conhecer de muito perto, que me fazem ainda acreditar na carreira, esse ambiente é asfixiante e ainda longe de ser a "tradução dos anseios da sociedade". Cheira a mofo. E se arrasta. E prejudica.

Como se não bastasse a burrice dos aspirantes a operadores do direito, hoje tive a infelicidade de ler a notícia de que o Tribunal de Justiça de São Paulo proibiu a distribuição do livro "Os Cem Melhores Contos do Século", organizado pelo meu ex-professor Ítalo Moriconi, aos alunos da educação pública. Não acreditei. Tive que procurar em outros sites mais informações sobre o caso. O número do processo. A fundamentação do Juízo. Os comentários. Como? Por quê? Pra quê? Eu tô sonhando?
Num país de iletrados como o nosso, essa medida é um deserviço público vindo de quem se julga o alto poder do Judiciário e só enfraquece ainda mais a imagem da Instituição. Parece que a argumentação é a de que um dos contos, Obscenidades para uma dona de casa, de Ignácio de Loyola Brandão, seria inapropriado para os estudantes. É ridículo acreditar que um adolescente será desvirtuado de qualquer caminho por causa de um conto, quando a internet tá aí cheia de possibilidades de acesso a conteúdos pornográficos ou perigosos. A verdade é que ninguém lê, e, com sorte, alguns desses adolescentes que receberiam o livro teriam a curiosidade de abri-lo para ler dois ou três contos, nada mais. O politicamente correto hipócrita impera mais uma vez para atrasar qualquer tentativa de avanço nas políticas públicas de educação.
Meu Deus do Céu, onde vamos parar? Primeiro Monteiro Lobato, depois Loyola, qual será o próximo, Machado? o último desliga a luz.

3.10.10

CLARO ENIGMA



Muito causou espanto o que aconteceu àquele homem. Era um senhor simples, já de meia idade, rosto oblíquo, a pele alva, manso. Era sério, simples, e forte. Observava atrás dos óculos o vasto mundo, não mais do que o que ia por dentro. Escrevia versos e se chamava José, mas poderia ser qualquer outro, João, Joaquim, Raimundo, Carlos. Apenas mais um gauche, entre tantos, se não houvesse tantos desejos. Seguia sempre o mesmo trajeto trilhado há tantos anos, entre a Graça Aranha e a Araújo Porto Alegre, que as ruas já pareciam fazer parte de si, assim como se reconhecia no seu caminhar a sua distinta profissão de funcionário público.


Contam os mais próximos que a razão de ele ser triste era por ter nascido em uma cidadezinha qualquer, em que janelas olhavam a vida passar devagar, com um peso de ferro, como que de suportar o mundo nos ombros. Mas agora, era apenas uma fotografia na parede de sua casa, para onde se dirigia quando se deu o acontecimento.


Já na orla de Copacabana, o homem ia devagar, à procura da poesia escondida em algum lugar, quando, de repente, no meio do caminho tinha uma pedra. Mas não uma qualquer: era obtusa, misteriosa a pedra no meio do caminho, no meio da sua pacata travessia rotineira. Deteve-se a observá-la com toda a cautela que suas retinas fatigadas atrás dos óculos lhe permitiam alcançar. Sabia que sob a face neutra da pedra se escondia mil faces secretas que lhe perguntava: trouxeste a chave?


Não podia prosseguir em paz. A pedra lhe obstava todo o caminho traçado, toda a continuidade da vida, suspensos pelo claro enigma de esfinge que ali se configurava. Decifra-me, ou te devoro.


De repente, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou e tudo fugiu. Restava o homem, parado, sem gritar, sem gemer, o homem e o tabu: e agora?


Seu medo era como duros tijolos a cobrir a rua, só de medo e de calma. Observava a pedra e quanto mais se perguntava o seu segredo, mais não o respondias, lhe dizia que não tinha. O homem a perguntar, realmente não o tinhas, me enganavas?


Já pensava na desculpa que iria dar no trabalho, a carta ao senhor diretor, que protocolarmente surgia infalível às 8 e meia, sempre a indagar – alguma novidade? Sim, a novidade era aquela ali, a pedra no meio do caminho, a que lhe impunha a consciência suja, a que lhe fazia ganhar (perder) o dia – veja lá, José, eu confio em você.


Na pedra gastou seu dia. Nela, se perdeu. Quando amanheceu, o homem, duro como a pedra, não morreu. Fez-se de ferro, assim como sua cidade natal, e está lá até hoje, de costas para o mar, sentado num banco, na praia, a questionar, a pedra.











obs pra ninguém: eu fiz esse conto para um concurso sobre Carlos Drummond de Andrade, mas perdi o prazo para o envio. Mas não estou triste, foi um processo divertido, dividir uma estória com o poeta. Voltando às obrigações jurisdicionais...

20.9.10

O inesperado faz uma surpresa

Rufar dos tambores... taratatá!

E aí eu me lembro daquele comercial: será? será?

Aff, é demais pro meu pobre coraçãozinho...

12.9.10

É tudo novo, de novo

Eu já nao sonho com mais nada além de uma ideia fixa que me consome há aproximadamente 4 meses. É ela que me salva dos conflitos internos, externos, dos medos, finais, desencontros e fracassos. E já entendo Pessoa no que diz que viver é estar sonhando, só é possível vida no sonho, como quis me convencer o Motta.
Tenho tido aulas motivadoras, aprendido mais sobre Drummond, Bandeira e Baudelaire. Do Direito ainda tento entender constitucional, previdenciário, processo civil. Nos dias aparecem pessoas interessantes, somem outras, reaparecem mais algumas.
Tento dar ordem ao caos, virgiana incontestável, deixo as contas pagas, os deveres sobre a mesa. Tento, e quando nao tenho sucesso, tento mais um pouco. Funciona.
Abandono os excessos, largo Aristóteles e Eurípedes pra lá, prometo deixar de ser irresponsável, e faço cara de "compreendo", como o tio Charlie.
Vou dando liga a minha ideia, limpando arestas, desfazendo laços. E é vida que segue.

Once upon a time

"Tem certos dias que passam como continuidade de outros, um intermédio até o próximo final de semana. São dias bons, embora não se aperceba disso. Acontece que quando chega um dia realmente delimitador de outros tempos, eu tenho vontade de continuar naquela rotina que tão menosprezava e torcia pra acabar. Não são ruins também, é o medo do desconhecido, do há-de-vir. E acontecem tão de uma hora pra outra que eu fico tonta e não sei reagir. Acho que ninguém. Mas ninguém reage como eu.

Porque ninguém raciocina tão lento e mesmo assim tenta compreender toda a complexidade da questão em segundos. E eu não reajo bem a certas coisas que me causam perplexidade. "


Eu escrevi isto em outubro de 2009, e agora me lembro perfeitamente bem do porquê. Achei que aquele fato iria realmente modificar as coisas, que eu iria parar com essa repetiçao clichê de reclamar da minha rotina. Engraçado como foi um nada-de-mais que, ao final, nem deixou marcas dignas de consideraçao, como um flerte inofensivo em que você já se imagina casada mas ele nem pega o seu telefone.

A vida independe.

Queria ter tempo pra mim e pros meus projetos, meus enredos, meus interesses
Queria escrever pros amigos, ligar, saber como andam, o que fazem, e quando a gente pode se ver
Queria saber falar e escrever fluentemente inglês e espanhol, como cismo em colocar nos cadastros que faço por aí
Queria também saber falar e escrever fluentemente o português, como finjo que sei por aí
Queria ter coxa, peito, bunda, queria caber num sapato, numa calça legal
Queria ter uma internet mais rápida, um notebook, ou apenas um teclado que funcionasse o botao do til
Queria me lembrar das senhas, e também dos usernames
Queria ter uma máquina digital como as antigas em que a gente olha por um buraquinho como vai ficar a foto e as cores fazem as coisas saírem incrivelmente belas
Queria estudar muito menos, pra poder estudar muito mais
Queria nao me aproximar muito, nao gostar muito, nao me envolver muito, porque no final do ano eu...
Queria voltar a ser aquela garota engraçada, egocêntrica, nao queria mais nada disso de volta
Queria deixar de ser idiota e falar idiotices, escrever idiotices, pensar idiotices, fazer idiotices
Queria nao precisar pegar ônibus nunca mais, nunca mais ir a Campo Grande, nunca mais chegar atrasada, nunca mais fazer prova, nunca mais preencher ficha, assinar, rubricar
Queria nao poder caber em mim de tanta felicidade, tanta informaçao, tanta vida e beleza
Queria nao querer e ser, apenas


Mas é outro setembro, é outro ano astral, outro ciclo, o mesmo ciclo, a mesma história e a mesma vida. Até que enfim dezembro chegue, e com ele a roda-viva...

24.5.10

Ouvido num ônibus

_ Eu, comparado à vida, estou por uma palavra.

[tentei compreender o sentido dessa máxima, mas achei que certas coisas nem devem ser entendidas, ou tem representação por si mesmas, numa vida paralela à correspondência ao real. Aí pensei que Roland Barthes tinha incorporado em mim e exorcitei-o, olhando para fora da janela o caos de gente na rodoviária Novo Rio.]

22.5.10

Maio

Maio é um mês bonito.

Maio é um mês estranho.

O final de maio é prenúncio do meio.

E eu hoje estou inspirada.



"Maio
já está no final
É hora de se mover
pra viver mil vezes mais
Esqueça os meses
esqueça os seus finais"

"maio", kid abelha



Eu sempro esqueço os finais.