4.5.12
Era uma vez
Considerações? nenhuma.
Sobrou meu velho vício de sonhar.
venenodeletra.blogspot.com.br
20.11.10
2012 é logo ali
3.10.10
CLARO ENIGMA
Muito causou espanto o que aconteceu àquele homem. Era um senhor simples, já de meia idade, rosto oblíquo, a pele alva, manso. Era sério, simples, e forte. Observava atrás dos óculos o vasto mundo, não mais do que o que ia por dentro. Escrevia versos e se chamava José, mas poderia ser qualquer outro, João, Joaquim, Raimundo, Carlos. Apenas mais um gauche, entre tantos, se não houvesse tantos desejos. Seguia sempre o mesmo trajeto trilhado há tantos anos, entre a Graça Aranha e a Araújo Porto Alegre, que as ruas já pareciam fazer parte de si, assim como se reconhecia no seu caminhar a sua distinta profissão de funcionário público.
Contam os mais próximos que a razão de ele ser triste era por ter nascido em uma cidadezinha qualquer, em que janelas olhavam a vida passar devagar, com um peso de ferro, como que de suportar o mundo nos ombros. Mas agora, era apenas uma fotografia na parede de sua casa, para onde se dirigia quando se deu o acontecimento.
Já na orla de Copacabana, o homem ia devagar, à procura da poesia escondida em algum lugar, quando, de repente, no meio do caminho tinha uma pedra. Mas não uma qualquer: era obtusa, misteriosa a pedra no meio do caminho, no meio da sua pacata travessia rotineira. Deteve-se a observá-la com toda a cautela que suas retinas fatigadas atrás dos óculos lhe permitiam alcançar. Sabia que sob a face neutra da pedra se escondia mil faces secretas que lhe perguntava: trouxeste a chave?
Não podia prosseguir em paz. A pedra lhe obstava todo o caminho traçado, toda a continuidade da vida, suspensos pelo claro enigma de esfinge que ali se configurava. Decifra-me, ou te devoro.
De repente, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou e tudo fugiu. Restava o homem, parado, sem gritar, sem gemer, o homem e o tabu: e agora?
Seu medo era como duros tijolos a cobrir a rua, só de medo e de calma. Observava a pedra e quanto mais se perguntava o seu segredo, mais não o respondias, lhe dizia que não tinha. O homem a perguntar, realmente não o tinhas, me enganavas?
Já pensava na desculpa que iria dar no trabalho, a carta ao senhor diretor, que protocolarmente surgia infalível às 8 e meia, sempre a indagar – alguma novidade? Sim, a novidade era aquela ali, a pedra no meio do caminho, a que lhe impunha a consciência suja, a que lhe fazia ganhar (perder) o dia – veja lá, José, eu confio em você.
Na pedra gastou seu dia. Nela, se perdeu. Quando amanheceu, o homem, duro como a pedra, não morreu. Fez-se de ferro, assim como sua cidade natal, e está lá até hoje, de costas para o mar, sentado num banco, na praia, a questionar, a pedra.
obs pra ninguém: eu fiz esse conto para um concurso sobre Carlos Drummond de Andrade, mas perdi o prazo para o envio. Mas não estou triste, foi um processo divertido, dividir uma estória com o poeta. Voltando às obrigações jurisdicionais...
20.9.10
O inesperado faz uma surpresa
E aí eu me lembro daquele comercial: será? será?
Aff, é demais pro meu pobre coraçãozinho...
12.9.10
É tudo novo, de novo
Once upon a time
Porque ninguém raciocina tão lento e mesmo assim tenta compreender toda a complexidade da questão em segundos. E eu não reajo bem a certas coisas que me causam perplexidade. "
Eu escrevi isto em outubro de 2009, e agora me lembro perfeitamente bem do porquê. Achei que aquele fato iria realmente modificar as coisas, que eu iria parar com essa repetiçao clichê de reclamar da minha rotina. Engraçado como foi um nada-de-mais que, ao final, nem deixou marcas dignas de consideraçao, como um flerte inofensivo em que você já se imagina casada mas ele nem pega o seu telefone.
A vida independe.
Queria escrever pros amigos, ligar, saber como andam, o que fazem, e quando a gente pode se ver
Queria saber falar e escrever fluentemente inglês e espanhol, como cismo em colocar nos cadastros que faço por aí
Queria também saber falar e escrever fluentemente o português, como finjo que sei por aí
Queria ter coxa, peito, bunda, queria caber num sapato, numa calça legal
Queria ter uma internet mais rápida, um notebook, ou apenas um teclado que funcionasse o botao do til
Queria me lembrar das senhas, e também dos usernames
Queria ter uma máquina digital como as antigas em que a gente olha por um buraquinho como vai ficar a foto e as cores fazem as coisas saírem incrivelmente belas
Queria estudar muito menos, pra poder estudar muito mais
Queria nao me aproximar muito, nao gostar muito, nao me envolver muito, porque no final do ano eu...
Queria voltar a ser aquela garota engraçada, egocêntrica, nao queria mais nada disso de volta
Queria deixar de ser idiota e falar idiotices, escrever idiotices, pensar idiotices, fazer idiotices
Queria nao precisar pegar ônibus nunca mais, nunca mais ir a Campo Grande, nunca mais chegar atrasada, nunca mais fazer prova, nunca mais preencher ficha, assinar, rubricar
Queria nao poder caber em mim de tanta felicidade, tanta informaçao, tanta vida e beleza
Queria nao querer e ser, apenas
Mas é outro setembro, é outro ano astral, outro ciclo, o mesmo ciclo, a mesma história e a mesma vida. Até que enfim dezembro chegue, e com ele a roda-viva...
24.5.10
Ouvido num ônibus
[tentei compreender o sentido dessa máxima, mas achei que certas coisas nem devem ser entendidas, ou tem representação por si mesmas, numa vida paralela à correspondência ao real. Aí pensei que Roland Barthes tinha incorporado em mim e exorcitei-o, olhando para fora da janela o caos de gente na rodoviária Novo Rio.]