28.1.09

Vendendo a alma

Caso: ex-prefeito de uma cidade do Espírito Santo condenado pelo TCU por desvio de verbas públicas ao ressarcimento de mais de novecentos mil reais - isso mesmo - ao erário. AGU interpõe agravo de instrumento contra decisão que negou pedido de indisponibilidade de 30% dos vencimentos do executado - que são cerca de cento e trinta mil reais por mês, por conta de três matrículas como funcionário público - a fim de que o mesmo pague a dívida, já que ele sabiamente não tem nenhum bem em seu nome.
Estagiária escrava-branca compelida a dar razão ao juiz de 1º grau, pois salário tem natureza alimentar, logo, impenhorável, salvo para pagamento de prestação alimentícia. Elabora relatório e resolução de mérito para correção do desembargador. Este, favorável. Assina. Está indeferido o recurso.

Fato: Revolta por achar que esse desgraçado tinha que estar era vendendo o corpo numa beira de estrada até pagar tudo o que roubou da população. Se acha a maior filha-da-puta do mundo por estar negando o pedido - mesmo que indiretamente - para que um safado como esse pelo menos amenize o dano que causou aos cofres públicos. Repete para si que nunca vai contar pra família que foi obrigada a encontrar fundamentos a favor de um sujeito como esse, ainda que não tenha culpa das leis serem tão oblíquas e deixarem que injustiças como essa sejam permitidas para manter a "segurança jurídica". Não quer nem ver a cara desse fulano na sua frente - sua vontade era pular na jugular e quebrar o pescoço como se fosse o de uma galinha. Que ele se entupa com o salário de cem mil reais que não merece nem um centavo: se escapou da condenação por vias legais, que ainda haja uma justiça divina que o leve para o fogo do inferno. Tem que existir, para imolar a minha culpa de não ser ninguém e não poder fazer nada.

Sempre

Da impossibilidade de mudar as coisas, por ser tão pequenininha e ao mesmo tempo instrumento. Vias de. Temerosidade do que vão achar: peraí, vocês querem que eu produza em profusão ou querem compromisso? O que todos querem? O que se espera de uma fracote pouco informada, dessas que acontecem por um susto?
Cansaço de alma. Alargamento de postura. Estirada, toda torta, mal educada. Que se dane. Assim permaneço, porque se posso mudar não quero, já não tem importância alguma, são tudo fases. E processos de descobrimento, cada um tem o seu. Então me deixem, não reclamo, estou aqui mas não estou, saca? Eu já dei um mergulho bem desse andar lá pro alto, a cima, lá, tá vendo? É lá que estou nesse exato momento em que você vê em mim evasão. Mas não é nada pessoal, como tudo aqui não é. Então sorria em meio tom e me cumprimente, vá ao seu destino e fique. E de lá não volte até o momento em que eu retirar meu corpo desse ambiente.

24.1.09

Do estágio

Como não falar daquilo que consome meus dias, minhas energias, o meu exercício de paciência? Pois nada aconteceu de significativo - a não ser a perda de um pouco de descontração, com pessoas mais sorridentes e interessantes. Sim, havia flashes de alegria, mesmo que sutis, de frequentar aquele lugar. Agora não há mais. O formalismo funcionário público é o que prepondera. Não que seja um cemitério de tristeza, imagina. Mas a minha mente não está lá. Muito porque me recuso. Eu não quero nada daquele lugar, nem mesmo o conhecimento. Pois sei que entendendo ou não o Sistema Financeiro de Habitação eu tô pouco me lixando.

Dos movimentos [dis]simulados

Eu sei o que você quer. Mas eu não posso lhe dar. Sou comprometida. Comigo mesma, e sou muito ciumenta, aliás. Não pense que não reparei, não sou tão alienada assim. E confesso que o flerte é muito bem recebido, recíproco até. Mas é tudo o que posso oferecer. Há um limite entre o que me agrada e o que você representa, e toda a cultura por trás. Algo que cresce assim que não temos o contato frente a frente. Eu não sou o que você deseja, aquilo é fingimento de auto estima, de desprendimento de cotidiano. Então não me provoque, não pegue na minha mão e fique fazendo carinho, não me puxe contra o seu corpo e sussurre no meu cangote, porque eu vou fingir que nem tô reparando, eu sou muito boa nisso e você não me conhece nem um pouquinho. Vamos ser apenas um par - mas de dança, o que eu lhe agradeço muitíssimo, porque encontrar cavalheiro da minha altura é hard. Até onde os movimentos possam ser medidos, de onde começa os desígnos autônomos, eu tenho o controle - você só me guia no salão.

Boca suja

Se tem uma promessa que me fiz, mesmo não a fazendo formalmente, foi a de que não devo falar tanto palavrão. Nem tanta gíria. Não cabe bem a mim, ao que eu desejo ser, à minha beleza nórdica [rs]. Aliás já havia me prometido não ser tão engraçadinha no trato com os outros, herança de pai, pois nem sempre é hora de tiradas espertinhas. Mas tem certas coisas que entendo além de mim, dom incontrolável. Fica a intenção.

2009

Eu deveria falar um pouco sobre o começo de ano, pra dar importância a isso. Mas acontece que eu nem vi 2008 passar, então parece que o que há é apenas uma continuação. Venha lá como for: seja bem vindo com as honras de praxe, e com a tal correção ortográfica temerosa. Passe do seu jeito usual, sem muitos tropeços, e se vá assim como chegou [não faça barulho]. E que 2010 lhe dê uma banda - e eu possa dizer, finalmente, que eu terminei alguma coisa na minha vida, porque tudo [tudo mesmo] anda suspenso na órbita gravitacional.

Incongruência

Achei interessante quando abri, depois de um longo tempo, e encontrei esse título um tanto quanto sugestivo em relação ao que eu não sei dizer, ao que eu não sei o que me dá. É um sensação muito antiga, vem de quando eu nem pensava em mundo de gente grande, e pra falar a verdade não sei se sai de lá. Medo de escuridão: não um quarto vazio, respiração controlada. Medo de dentro, luzes apagadas onde não se vê. Como ali estava não sei; não lembro do que me levou a escrever a palavra, mas desconfio que deva ser desvios de um mesmo mote. O imutável e ao mesmo tempo inconstante. Medo de que não faça sentido nenhum. Então os dias são lutas diárias por novos dias, que passarão como esse e como os outros, em busca dos novos. E tudo me pesa, como se o que eu vivesse não fosse durar, como se nada fosse o bastante (nem o tudo seria). É um enforcamento na goela, uma sobrancelha cerrada, o pé atrás na dança. parado. O que será das angústias individuais quando todo mundo reparar que todo mundo tem? Qual será a desculpa dos hipocondríacos?