21.4.09

De uma pessoa querida

Às vezes coloca uma flor no cabelo. Às vezes não quer conversar. E eu não sei como dizer a ela o quanto eu gosto muito muito dela sem que isso pareça afetividade excessiva. Porque eu sou rude e falo coisas grosseiras, acho que ela nunca mais vai falar comigo na sua vida. A gente passa um tempão sem se ver e é sempre a mesma história: cuidado e atenção. E eu sei que ela será uma pessoa iluminada e terá muita sorte na vida, porque uma pessoa tão boa assim só pode ter coisas boas da vida. Eu a imagino porcelana: sei que as situações que passamos só nos fazem envelhecer antes do tempo, mas ela não. Permanece muito delicada, muito alva de espírito. Ou então, pode ser um tormento dentro, mas não transparece nem uma brisa de verão. Ela é primavera, isso sim. É o que eu queria ser, mas que saiu errado. Será que seremos amigas sempre? Não sei. Isso nunca se sabe. Mas farei de tudo pra ter notícias dela mesmo quando ela não quiser saber notícias minhas.

Um instante maestro

Eu já não sei mais o que fazer. Aliás eu nunca soube. E me pergunto se alguém sabe, porque, sinceramente, só vejo gente perdida.
Como seria bom saber tocar um instrumento, pra num lamento a manhã nascer azul.
(Eu senti uma angústia vindo daqueles olhos, justamente alguém que poderia me dizer que conseguiu chegar ao topo do seu mundo, trabalhando, sendo honesto, estudando, mas a sua mansidão e o trato comigo e com todos passa uma humildade de um alguém acuado, de uma tristeza infinitamente maior do que eu posso compreender, e eu me senti estúpida pensando assim porque, ei, a ferrada na vida sou eu, ele vai sair daqui com motorista enquanto eu conto moedinha pro ônibus, mas mais uma vez eu me senti uma estúpida porque essas conjecturas podem ser todas uma estupidez. então ele continua na sua vida em silêncio, sem a gente saber nada sobre ele, ou apenas fragmentos, que mais uma vez reforçam a sua imagem passiva diante de mim e meu cérebro doentio.
Ele é uma pessoa muito frágil, anda curvado, não faz barulho quando anda, nunca se irritou com o meu amadorismo e fala como se fizesse um esforço danado pra ser o mais baixo e suave possível, no limite do tom de voz e de gravidade que vem da sua masculinidade. pede obrigado e desculpa sempre que consegue encaixar essas duas palavras nas suas frases, sorri quando eu sinto que a pergunta que eu fiz foi a mais tola possível e, mesmo assim, eu não consigo me dirigir a ele com confiança, acho até que ele me considera uma pessoa "bobinha", meio que burrinha. talvez eu seja mesmo. ele merecia alguém melhor para ajudá-lo, não eu. não por não ser competente, é pelo entusiasmo que não tenho com o meu dever de aprender.
Ele ainda pode se irritar muito comigo, pode mudar comigo a qualquer momento, mas a sua imagem nunca vai mudar pra mim. infelizmente.)

Fios

Imagino que são fios o que nos prendem. finos como o de uma aranha, quanto fortes. como os dos neurônios. mas aqueles são retos, todos retos, feito malha de rede, para se deitar. ou para manter-nos de pé. as idéias todas de pé. e eles se desfazem no contato, se refazem à distância. e invisíveis, tanto que a gente nem sabe que eles estão lá, mas pressente.
eles já foram cortados em algum momento que eu não sei, para sempre, mas que nunca existiu porque nunca foram tecidos totalmente. voltando para um status quo antes apenas idealizado.

Uma música da Ana Carolina

Você já esteve na rua no momento em que a cidade se acende, e parece começar a partir dalí, onde você está, cabeça baixa olhando o chão e todas as luzes ligadas ao mesmo tempo, te obrigando a levantar, fazendo um corredor por onde você passa e por onde você passará, e acha aquilo tudo muito muito bonito e significativo e tudo, você ali despreparada contra o que vem dos outros, da vida, infinitamente frágil e maleável e o resto. e é engraçado de uma graça sem riso sem estouro sem ápice perceber o momento do dia em que já não dá mais pra resolver as coisas, as lojas se fechando, o dia que já não é dia, é volta, as pessoas apressadas tomando seus assentos, para desperdiçarem longas horas paradas, e você não é uma delas, porque ainda não acabou, se foi apenas uma parte, começa outra e que você não tem a mínima pressa de acontecer, e fica muito feliz de não fazer parte daquilo e muito triste por não fazer parte daquilo, porque não há para onde voltar, ou para quem voltar. porque você não tem as responsabilidades que as pessoas maduras garantem que são realmente sérias, porque mesmo matando um leão por dia elas vão dizer que essa fase é a melhor de toda uma vida e você, pobre coitada, não consegue enxegar agora, que todas as suas aflições, medos, preocupações não passam banalidades frívolas e juvenis, todo mundo passa por crises de identidade, são os hormônios, é tudo químico-biológico-sociológico, somos fantoches, use filtro solar. e antes que tudo vire um clipe do queen e david bowie você presta atenção nas luzes. ninguém presta atenção nas luzes. só quando elas não estão lá, e está escuro. e ninguém é obrigado a prestar atenção nas luzes. porque elas estão lá. tudo está no seu devido lugar. ou caminhando para. mesmo parado. e você ali, iluminando alguém que te espera, ou que por você é esperado. ou que não se espera.

Droga

Eu perdi todo o post que estava escrevendo por conta da minha internet e agora eu já nem lembro tudo o que escrevia. Perdeu-se uma grande idéia ou uma grande balela. Não importa.