20.9.09

De Profundis

Sobre Bosie e sua falta de imaginação.
Sobre Oscar Wilde, cortesão do espírito, terrível e fabuloso.
Um individualista, quando encontra outro mais ainda, e deixa de ser egoísta, é a queda fatal.
O triste fim de um gênio. E não era nada disso que eu queria dizer.

A espera é a pior maldade. porque ela aflige um ser que está só, à espera. quem espera sempre alcança, três vezes salve a esperança. e ninguém quer ficar só, à espera, porque esperar é suspender o exato instante em que se vive, e se espera, por um fato ainda não ocorrido, e presumivelmente mais importante que este. e o sujeito se anula, no momento, numa agonia pelo desconhecido. e nada faz com que o distraia: ele não se desvencilha. e quando ele é enganado por quem se espera alguma coisa, e descobre a fraude, ele é pra sempre prisioneiro do seu desejo.

ou:

Vivemos pra tentar esquecer.

ou:

A salvação pode ser a sua perdição.

ou:

De nada adianta postar-se de fora.

ou:

Bosie foi o que foi, ou o que deixou de ser, porque, no fundo, era um ser encantado. o maior moralista dos imorais. uma criança mimada, e dizem que elas são as mais encantadoras. ele nunca o enganou, veja bem. e o pior que Wilde sabia disso. mas quem se desvencilha? então eu acho que o amor não é uma cegueira, nem a paixão o é, a pessoa enxerga muito bem, sim senhor. mas não se importa.

ou:

Gente insignificante também entra para a História.



Porque viado que é viado consegue me estraçalhar de tal forma que me dá vontade de xingá-lo de viado.

23

"Deixo fluir tranqüilo
Naquilo tudo que não tem fim
Eu, que existindo tudo comigo,
depende só de mim
Vaca, manacá, nuvem, saudade
Cana, café, capim
Coragem grande é poder dizer sim"
[Caetano]











É um transbordar de invenções malévolas ao corpo como redenção de alma;
É um nada-poder-se-fazer com o-que-não-se-tem;
É um chafurdar-se em letras planas, para pessoas planas, e claras, e lógicas, que chegam a alvejar ao branco;
É sonhar com o dia seguinte na cama que não cabe tamanha especulação, de ficar as costas doendo;
É um não regenerar-se da pele como reflexo do que há por baixo, em contínua perda de elasticidade;
É um não se fazer entender para não se expor o que deveria ser o óbvio ululante e, no entanto,
é querer se fazer entender pelo não-dito;
É conservar as linhas de expressão do rosto qual marcas de uma experiência ainda em teste, a rodopiar e espreitar as surpresas;
É querer te ligar e saber como foi o seu dia, com quem esteve, quais seus caminhos e o que pensa de mim, sem que isso pareça interesse algum;
É planejar e planejar de novo, pra depois mudar tudo e fazer o contrário, ou não fazer absolutamente nada;
É ver tudo embaçando à sua frente numa metáfora do limite do ser;
É carinho e compreensão egoísticos de quem não consegue guardar rancor;
E tudo é tão calmo, que transcorre em anestesia.





E nú, com a minha música,
afora isso somente amor.