18.10.09

Sobre vocação e essas coisas

Eu sempre tive inveja de quem me dizia, de plano, o que pretendia ser, qual a carreira vai seguir. Inveja porque, bem lá dentro da mente, eu ainda não tinha muito bem definida a escolha. Não que a gente precise determinar tudo o que acontecerá, como se dependesse exclusivamente de nós. Mas um rumo é importante quando você se descobre adulta e com responsabilidades pessoais. E eu só sabia o que não queria ser.
Eu andei batendo muito a cabeça por aí, achava que nunca iria me convencer que o que eu escolhesse, era o realmente indicado. Um sentimento egocêntrico de desperdiçar talentos. Talvez sim, talvez não, o fato é que qual plano fizesse, não bastava. Eu tinha um futuro pela frente, ei, eu ainda tenho, mas tudo muito vago e disperso em preferências de estilo que não se adequam à praticidade da vida. Então se você gosta de animais vá fazer veterinária; se curte malhar vá fazer educação física; se o seu lance é ler, Letras. Mas isso não servia pra mim.
Não só a nível de faculdades e estudos, mas com relação a essa parcela da vida que se chama trabalhar, e que é importante para a caracterização do indivíduo. A pessoa tem que saber o que colocar no campo "profissão" quando preencher uma ficha, e "estudante" para sempre não é legal. Retomando, eu falava de vocação.
De um tempo pra cá uma idéia me tomou de assalto - bem machadeano eu diria, com um homenzinho fazendo um "xis" com os braços e pernas: decifra-me ou te devoro. E eu não tinha olhos pra ver o que esteja sempre ali, só precisando de um fósforo. Risquei, ele acendeu, eu li claramente: eureka, é isso! lógico! que burra!
De uma forma ou de outra, se encaixa perfeitamente aos meus propósitos de vida e honra familiar. Estranhamente, nada é desperdiçado, eu não perdi tempo com nada, ao contrário, eu ganhei um tempo preciosíssimo, que agora vejo como aproveitar. E agora lá no fundo do peito eu tenho um orgulho e uma calma de esperar que só quem sabe o que quer fazer da sua vida deve ter.
Não tenho nada ainda, só aquele medo de estar sonhando muito alto e ficar frustrada depois, mas aprendi a não sofrer por antecipação. Estou no meio do processo, estou no caminho certo e, por enquanto, isso me basta. Tenho que me preparar, e muito, e absurdamente esgotar-me, e amargamente lutar contra as minhas limitações, e ser uma suicida em potencial (rs). Talvez essa sobrecarga intelectual que há anos cultivo vá se esvaziar daqui há algum tempo, e eu desejo ardentemente isso, só pra me encher novamente com o triplo de livros e estudos. Talvez a vida seja isso: preparar-se, e preparar-se, e preparar-se, num looping eterno. Só que, agora, os mastros estão na direção certa, apontando para o norte. Avante, que o vento (e Deus) me ajude.