27.1.08

Sobre ligar o foda-se

TRRRRIM!!!!!! TRRRRIM!!!!!!!

_ Hummm... alô?
_ Oi, tava dormindo?

[ai, lembrei. Mas que droga...]

_ É... tava sim. Desculpa, não consegui acordar cedo...
_ Ah tá, tudo bem... era só pra confirmar se você vinha...
_ Tá bom então... eu vou numa próxima oportunidade.

[cama]

....

TRRRRRRIMM!

_ Hummmm.... oi...
_ Olha, eu peguei uma senha pra você. Agora vem logo!
_ O quê? Mas já tá tarde! Já são dez e meia!
_ Não interessa. Toma banho e se manda.

Toalha. Chuveiro. Escova de dente. Roupa. Pente. Dinheiro. Chave.

Cheguei. Fila imensa. Cara de poucos amigos. Bate boca, confusão. E eu ali no meio. Implicância por eu ter entrado na fila. "Minha senhora, eu peguei a senha pra ela, ela só vai me substituir", "Acontece que ela não tava aqui desde nove horas da manhã, como todo mundo", "Mas eu tava, e peguei pra ela", "Não é justo porque quem chegou antes dela não conseguiu", "A vida é injusta", blábláblá, blábláblá. E eu ali [ai, onde eu fui amarrar meu bode...]. Enfim pacificado. Ou não. A mulher revoltada dá um jeito de me empurrar e passa a minha frente, com os dois filhos. Controle mental: "Não vá se estressar com essa gente, você não é desse nível".

Chuva fina. A moça passa e pergunta pro segurança: "A venda de ingresso é só até um horário ou até esgotar?", "Você quer saber sobre o ingresso popular? Já tá esgotado"
"Ih caramba, esgotou?", "Quem foi que disse?", "O segurança". A mulher de trás se intromete: "Ele quis dizer pra quem não tem senha." Pra mulher que passou a minha frente: "Ainda por cima é burra". Risinhos. Controle mental, controle mental...

Hora do show. Cadeira 27, 29, 31... ah, 33. Olho pro lado: não é possível. A baranga da fila. Na frente, a vaca com as duas pestes. Isso não pode tá acontecendo, não é possível. Que mal eu fiz pra merecer isso, você tá olhando o quê, perdeu alguma coisa aqui? As crianças não páram de se sacudir na minha frente, ficam empurrado a cadeira, sabem que eu tenho perna grande, vão estragar a minha noite.

Ao fundo, a cantora dá o recado: "Quem pode, pode deixar os acomodados que se incomodem"




Quer saber? VÃO SE FUDER. Ou melhor, não desejo isso porque essa mal comida pode gostar. Bem que eu gostaria de ficar aqui e gritar no seu ouvido, mas prefiro que fiquem aí ruminando que eu vou é lá pra baixo dançar. É, é isso. Fico em pé mas me divirto.

Desço. A Rita começa os primeiros acordes de "Saúde". Pronto, está tudo bom demais.

15.1.08

O amador

Canto de sereia,
Norte do viajante

Jogo de roleta,
Sorte de principiante.

O aprendiz comete o erro
Ao tentar acertar
(Mal sabe que o acerto
É só uma forma de errar)

Na vida persiste cantando
A tentativa do amor
Ou ele vira veterano
Ou ele ama a dor.





"E eu que já não quero mais
Ser o vencedor,
Levo a vida devagar
Pra não faltar amor!"

12.1.08

Sempre a meta.

Tudo é milimetricamente pensado, desde a roupa à bebida, porém ainda não decidiu o que pedir.

É costume seu em todo reveillon mentalizar um desejo nos primeiros instantes do novo ano, como que uma espécie de carta ao bom velhinho atrasada, ou se aproveitar [sabe-se lá] de uma energia cósmica poderosa que só passa naqueles segundos rápidos, e que trabalha durante todo o ano seguinte.

Não que acredite nessas coisas de numerologia, astrologia e afins; pero que las hay, las hay. Porém chegou a uma conclusão: tinha vários pedidos, ou o que é pior, nenhum pedido.

Era um ritual repetido religiosamente há mais de uma década. Nunca falhou porque realmente nunca se lembrara de lembrar do que pediu no ano passado, somente na véspera do corrente remoía e puxava na memória que havera feito um há exatamente 12 meses atrás, e aí analisava: aconteceu ou não se realizou? Geralmente, no flashback de situações automáticas, "mais ou menos". Era o que bastava para a formulação do próximo.

Agora não mais funcionou. Porque o que pedira não aconteceu, mas também já não interessava. Queria algo novo, sensação nova, vida outra.

O que era um risco, pois como dito, há mais de uma década era a mesma coisa de sempre. Arriscar-se a fazer outros pedidos que não àqueles, que gente normal com vida normal pedia [o que era normal], era expor-se a uma realização diferente, que nos seus planos de metas para o ano gerava uma álea de instabilidades [não que também esses não estivessem programados].

Um labirinto em forma de caracol se retorcia em sua mente; aquele simples desejo estava às raias de um crise existencial. Tentou em vão se chamar de idiota, o que não ajudou muito, porque grosseria não oferece soluções, só um semblante de abobado com boca aberta.

A hora se aproximava, e a exitação se misturava à excitação que o império dos sentidos proporcionava naquele dia, com cores, sabores e sons múltiplos. A grande fartura de uma grande festa, a blusa amarela para o dinheiro, as lentinhas para reforçar, o champanhe para a praxe, estava tudo ali, menos a cabeça.

Sim, essa estava à caça do ainda não fantasiado, do ainda intranspassável mundo da felicidade plena. A palavra essência do nirvana humano, possível de materializar-se, passível de sentir. Era muito? Tinha se comportado direito durante o ano para ganhar? não sabia. Mas não custava pedir, ué...

Nos devaneios que mergulhava não percebeu que o momento tinha chegado. O calendário cristão refletia sua força sobre o horário da Federação ateísta. Era agora ou nunca [aimeudeus], taças levantadas [pensaemqualquercoisa], coro de cronômetro [p%$#@*&^#!], todos a postos para o clímax...

_ cinco!
[Não seja egoísta]


_ quatro!
[É que...]


_ três!
[Melhor não]


_ dois!
[Já sei!]



_ UM!
ALOHA.