TRRRRIM!!!!!! TRRRRIM!!!!!!!
_ Hummm... alô?
_ Oi, tava dormindo?
[ai, lembrei. Mas que droga...]
_ É... tava sim. Desculpa, não consegui acordar cedo...
_ Ah tá, tudo bem... era só pra confirmar se você vinha...
_ Tá bom então... eu vou numa próxima oportunidade.
[cama]
....
TRRRRRRIMM!
_ Hummmm.... oi...
_ Olha, eu peguei uma senha pra você. Agora vem logo!
_ O quê? Mas já tá tarde! Já são dez e meia!
_ Não interessa. Toma banho e se manda.
Toalha. Chuveiro. Escova de dente. Roupa. Pente. Dinheiro. Chave.
Cheguei. Fila imensa. Cara de poucos amigos. Bate boca, confusão. E eu ali no meio. Implicância por eu ter entrado na fila. "Minha senhora, eu peguei a senha pra ela, ela só vai me substituir", "Acontece que ela não tava aqui desde nove horas da manhã, como todo mundo", "Mas eu tava, e peguei pra ela", "Não é justo porque quem chegou antes dela não conseguiu", "A vida é injusta", blábláblá, blábláblá. E eu ali [ai, onde eu fui amarrar meu bode...]. Enfim pacificado. Ou não. A mulher revoltada dá um jeito de me empurrar e passa a minha frente, com os dois filhos. Controle mental: "Não vá se estressar com essa gente, você não é desse nível".
Chuva fina. A moça passa e pergunta pro segurança: "A venda de ingresso é só até um horário ou até esgotar?", "Você quer saber sobre o ingresso popular? Já tá esgotado"
"Ih caramba, esgotou?", "Quem foi que disse?", "O segurança". A mulher de trás se intromete: "Ele quis dizer pra quem não tem senha." Pra mulher que passou a minha frente: "Ainda por cima é burra". Risinhos. Controle mental, controle mental...
Hora do show. Cadeira 27, 29, 31... ah, 33. Olho pro lado: não é possível. A baranga da fila. Na frente, a vaca com as duas pestes. Isso não pode tá acontecendo, não é possível. Que mal eu fiz pra merecer isso, você tá olhando o quê, perdeu alguma coisa aqui? As crianças não páram de se sacudir na minha frente, ficam empurrado a cadeira, sabem que eu tenho perna grande, vão estragar a minha noite.
Ao fundo, a cantora dá o recado: "Quem pode, pode deixar os acomodados que se incomodem"
Quer saber? VÃO SE FUDER. Ou melhor, não desejo isso porque essa mal comida pode gostar. Bem que eu gostaria de ficar aqui e gritar no seu ouvido, mas prefiro que fiquem aí ruminando que eu vou é lá pra baixo dançar. É, é isso. Fico em pé mas me divirto.
Desço. A Rita começa os primeiros acordes de "Saúde". Pronto, está tudo bom demais.