3.8.08

Mas eu não sou daqui

Enfim lá estava eu, me arrumando pra aquilo que eu já tinha certeza que não ia dar certo. Uma daquelas coisas que você reza pra estar errada, na esperança que, poxa, tem jeito de ir, mas que é só a mais pura ilusão que se pode tentar. E eu já tinha pago. Não ia deixar R$20,00 ir embora impunemente.
Era numa casa de festas. Casa de festas? Naquela rua eu não lembrava de nenhuma. Mas então fazia quase quatro anos que eu não passava por lá. Era na verdade apenas uma casa. Subia as escadas. Lá estava o que chamaram de festa.
Tanta gente que eu já vi um dia, gente que eu não conheço, aqueles que eu conheço eu não conheço mais. Um alien com penacho na cabeça plantado no meio da festa dos outros. Daí eu me lembrei daquela sensação angustiante de ser invisível tendo 2 metros de altura, que era tão usual mas se perdeu como algo que nunca se materializou de pronto no consciente, afinal eu tinha as minhas amigas, alguns outros do "bom dia", outros do "vc viu fulana?". Quase ninguém estava ali, e os que estavam já são outros. A distância que me separa de todos eles abriu uma cratera no meio, e continuar sendo chamada de "a culta" nunca me agrediu tanto como um pejorativo absoluto sintético. O que eles queriam dizer é ''você é estranha''. Ok, então. Eu aceito o joguete. Vocês continuam me julgando como a magrela sem graça e eu banco a estraga-prazeres. Eu não vou encher a cara de cerveja, não vou fumar seu cigarro fedorento, não vou falar sobre peguetes, vou falar mal de funk, eu não vou rebolar até o chão de perna aberta. Não na frente dessa gente. Tenho senso do ridículo. Se sou evangélica? Não, eu só não sou do seu nível.
A hora de ir embora foi complicadíssima. O que eu queria era sair voada, mas eu precisava dar um mínimo de satisfação a quem de consideração. Onde estavam todos? Na pista, se esfregando. Talvez não sejam tão de consideração assim. Enfim eu tinha pagado pra ser excluída, que façam bom proveito de tudo, eu tenho mais o que fazer, namastê. Peguei o primeiro ônibus que apareceu na minha frente, coloquei Ella Fitzgerald no ouvido pra me purificar.
Pai, você me estragou.