7.12.08

Das crises imaginárias

O meu anel de rosa sumiu. Não sei se o perdi, ou se ele caiu em algum canto da casa, ou se alguém pegou. E essa imprecisão do local me deixa um tanto mais inquieta do que se eu tivesse a serena convicção de que eu nunca mais vou voltar a encontrá-lo, de que ele não será meu novamente. E uma estranha impressão de que eu não cuido das coisas que me são dadas (sim, ele foi um presente) me aflige de tal modo que me dispara um revival de situações anteriormente contabilizadas na margem de erros crassos e porcamente transpassados. Um mea culpa sem fundo.
Paro. Não devo me ferir assim. Não há razão. É só um anel. Ficam-se os dedos.
O meu anel de rosa não é o mais bonito de todos que eu tenho, não foi o único que ganhei, não é o único anel de rosa da face da terra. "O Tejo não é mais bonito que o rio da minha aldeia porque o Tejo não é o rio da minha aldeia". Ora Pessoa, vai se foder.
Então qualquer motivo é razão para a metafísica existencial? O fato de eu não ser organizada e espalhar minhas bijuterias por tudo quanto é canto pode ser reflexo de um espírito atormentado, desregulado com os objetivos morais da sociedade? Esse discurso retórico-afetado realmente vai me convencer a esquecer que perdi meu anel que resultou num prejuízo pessoal, de fundo puramente afetivo? Por que uma pessoa valoriza tanto algo material que para o restante não é, será transferência de sentimento? Ou apenas um estopim do que já vinha se desenhando? Eu racionalizo muito? Devo procurar um psicólogo? Porque na minha cabeça eu não calo a minha boca?
Tem tanta gente morrendo de fome e sem perspectiva de vida e eu aqui aflita com um ornamento metálico e sem nenhuma importância.
Pela minha medicina auto-satisfatória eu estou carente. E por isso patética.