21.4.09

Um instante maestro

Eu já não sei mais o que fazer. Aliás eu nunca soube. E me pergunto se alguém sabe, porque, sinceramente, só vejo gente perdida.
Como seria bom saber tocar um instrumento, pra num lamento a manhã nascer azul.
(Eu senti uma angústia vindo daqueles olhos, justamente alguém que poderia me dizer que conseguiu chegar ao topo do seu mundo, trabalhando, sendo honesto, estudando, mas a sua mansidão e o trato comigo e com todos passa uma humildade de um alguém acuado, de uma tristeza infinitamente maior do que eu posso compreender, e eu me senti estúpida pensando assim porque, ei, a ferrada na vida sou eu, ele vai sair daqui com motorista enquanto eu conto moedinha pro ônibus, mas mais uma vez eu me senti uma estúpida porque essas conjecturas podem ser todas uma estupidez. então ele continua na sua vida em silêncio, sem a gente saber nada sobre ele, ou apenas fragmentos, que mais uma vez reforçam a sua imagem passiva diante de mim e meu cérebro doentio.
Ele é uma pessoa muito frágil, anda curvado, não faz barulho quando anda, nunca se irritou com o meu amadorismo e fala como se fizesse um esforço danado pra ser o mais baixo e suave possível, no limite do tom de voz e de gravidade que vem da sua masculinidade. pede obrigado e desculpa sempre que consegue encaixar essas duas palavras nas suas frases, sorri quando eu sinto que a pergunta que eu fiz foi a mais tola possível e, mesmo assim, eu não consigo me dirigir a ele com confiança, acho até que ele me considera uma pessoa "bobinha", meio que burrinha. talvez eu seja mesmo. ele merecia alguém melhor para ajudá-lo, não eu. não por não ser competente, é pelo entusiasmo que não tenho com o meu dever de aprender.
Ele ainda pode se irritar muito comigo, pode mudar comigo a qualquer momento, mas a sua imagem nunca vai mudar pra mim. infelizmente.)