21.4.09

Uma música da Ana Carolina

Você já esteve na rua no momento em que a cidade se acende, e parece começar a partir dalí, onde você está, cabeça baixa olhando o chão e todas as luzes ligadas ao mesmo tempo, te obrigando a levantar, fazendo um corredor por onde você passa e por onde você passará, e acha aquilo tudo muito muito bonito e significativo e tudo, você ali despreparada contra o que vem dos outros, da vida, infinitamente frágil e maleável e o resto. e é engraçado de uma graça sem riso sem estouro sem ápice perceber o momento do dia em que já não dá mais pra resolver as coisas, as lojas se fechando, o dia que já não é dia, é volta, as pessoas apressadas tomando seus assentos, para desperdiçarem longas horas paradas, e você não é uma delas, porque ainda não acabou, se foi apenas uma parte, começa outra e que você não tem a mínima pressa de acontecer, e fica muito feliz de não fazer parte daquilo e muito triste por não fazer parte daquilo, porque não há para onde voltar, ou para quem voltar. porque você não tem as responsabilidades que as pessoas maduras garantem que são realmente sérias, porque mesmo matando um leão por dia elas vão dizer que essa fase é a melhor de toda uma vida e você, pobre coitada, não consegue enxegar agora, que todas as suas aflições, medos, preocupações não passam banalidades frívolas e juvenis, todo mundo passa por crises de identidade, são os hormônios, é tudo químico-biológico-sociológico, somos fantoches, use filtro solar. e antes que tudo vire um clipe do queen e david bowie você presta atenção nas luzes. ninguém presta atenção nas luzes. só quando elas não estão lá, e está escuro. e ninguém é obrigado a prestar atenção nas luzes. porque elas estão lá. tudo está no seu devido lugar. ou caminhando para. mesmo parado. e você ali, iluminando alguém que te espera, ou que por você é esperado. ou que não se espera.